Quando eu era muito jovem, meu já falecido avô me disse: “Sempre
veja as segundas feiras como uma segunda chance”. Ao momento que me lembro da
última vez que ouvi isso já é tarde e muitas segundas feiras foram
desperdiçadas. Por não ter aproveitado nenhumas das segundas chances minha vida
se transformou num sábado, um eterno dia de descanso.
Vinte de maio, quarta-feira, meu aniversário. Eu me segurava
com uma só mão na barra de metal no teto de um ônibus, no outro braço estava
pendurada uma mochila com meus livros da faculdade. Eu vestia um casaco que era
o meu favorito, não por ser o mais bonito, mas meu único até então. Na metade
da viagem de uma hora e meia dentro daquele ônibus, que eu fazia duas vezes por
dia de segunda á sexta, senti a mais estranha energia tomar conta do meu corpo,
senti essa energia passar por trás de mim, o que equivale á roleta por onde
entravam passageiros no veículo. Depois de um calafrio que varreu cada átomo de
minha espinha, surgiu ao meu lado o mais belo dos seres.
A moça usava uniforme do banco, o cabelo certamente alisado
artificialmente porém muito bonito, e a perfeita tonalidade de batom rosa. Como
qualquer homem, eu não saberia definir aquela cor com outro nome que não rosa,
mas não era qualquer rosa. Ela se afastou sem me notar e posicionou-se em pé,
longe de mim.